“O relógio era o orgulho da cidade. Estava no alto da torre (…)”, começa o texto do António Torrado, o segundo destas mercadorias. E a primeira pergunta que o professor imaginou, na sua mania de achar que as coisas deve começar por ser simples: “Onde fora colocado o relógio que era o orgulho da cidade?” Linha em branco, 5-10 minutos, olhares para o relógio. Pergunta-se… “não entendes a primeira pergunta?” Ouve-se… “Não sei.” Desacredita-se e questiona-se “Mas percebeste o texto, pelo menos o início?” Silêncio, hesitação, balbuceio. Que não, que é muito complicado. Que não deu para perceber, muito menos o ferreiro, o bom gigante quem é ou deixa de ser. Estão a terminar os primeiros anos de escolaridade, quase onze anos de vida e parece aquela música do veloso. Nem dá bem para perceber se é desinteresse se é que leva a ficha “para a explicação depois das 5 horas e faço lá”. Mas porquê, para quê e como, se sou eu o professor e estou ali no apoio, com material para ajudar – deve ser o meu erro, devo estar a “treiná-lo” para perceber o que lê, é algo ultrapassado desde que saiba “comunicar” por via digital – mas não há qualquer empenho, “faço depois, agora não me apetece, o texto é difícil”. Teve sucesso até agora, um percurso sem retenções, mas não entende as letras, que se encaracolam no papel, sabe dizer as palavras medianamente, mas não sabe o que significam. Faladas alto, talvez. Incompetência minha que não desperto a motivação. Não dou a explicação que, sendo paga, talvez seja levada a sério. 45 minutos perdidos em duas vidas. Ou não. Porque os meus ainda são recuperados em parte com a colega que percebeu “um bocadinho do texto, mas é confuso, é muito grande”. Ainda tenta, percebe onde o relógio estava, não sei se chega para mais de 45 minutos de coisa quase nenhuma. Continue reading “Apoios” →
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