Manuela Galante

Manuela Galante

As viagens na minha terra
Sou Professora. E o “P” maiúsculo não é inocente.
Passo a explicar:
Há 30 anos que leciono. Por paixão. Por vocação.
Sou uma daquelas que soube, desde cedo, que queria ensinar.
Encarei este meu percurso profissional sempre com um sorriso, com sacrifícios, com alegria, com angústias, com dinamismo, com dúvidas, com novas ideias. Enfim, com Paixão. Com sentido de missão.
Fiz “a minha tropa” em Trás-os-Montes, lá mesmo longe, por detrás dos montes. Andei por estradas sinuosas e intermináveis. A viagem era proporcional ao número de curvas. Horas passadas ao volante. Horas passadas em comboios. Senti estas viagens na minha terra como sendo minhas. Muito minhas. Os serões à lareira, lendo, conversando e ouvindo histórias e partilhando estórias. A semana passada na escola, a trabalhar com gosto e afinco. As amizades que ia fazendo, que ainda hoje perduram. As viagens difíceis de ida, as despedidas em Campanhã. As viagens ansiosas de vinda, as chegadas a casa. À minha casa!
Contudo, lá, por detrás dos montes, senti-me sempre acarinhada, respeitada e acima de tudo valorizada. Era a Srª Professora.
Uma semana que ora passava a voar, ora se arrastava colada às horas. Entre dar aulas, dar música e conselhos na Rádio Pirata local, ajudar as minhas amigas Educadoras (essas sim, desterradas em aldeias nos confins do mundo), ir às “sanchas” e dinamizar actividades extra-curriculares, para os meus meninos, restava muito pouco tempo para ter saudades.
Foram três anos neste vai e vem de sentimentos fortes, à flor da pele, que ainda hoje me fazem turvar a visão de comoção.
Volvidos estes anos todos, lecionei e leciono perto de casa. À distância de poucas músicas no rádio do carro. Valeu o investimento. Valeu a distância. Compensou.
Mas, nos dias que correm, sinto-me triste, desiludida e cansada. Não estou cansada de dar aulas. Não estou cansada dos meus meninos. Não! Ainda não!
Não me sinto valorizada. Não me sinto respeitada. Não me sinto acarinhada.
Ser Professor é Ser Humano.
E, hoje, sinto que sou apenas mais um número mecanográfico. Mais um dígito para a estatística do Estado. De um Estado que não é pessoa de bem. De um Estado que trata os Professores como marionetas descartáveis. De um Estado que nos achincalha diariamente. De um Estado que não exige a si próprio, aquilo que exige aos outros. Que aos Professores tudo exige.
Sim, Professores com “P” maiúsculo.
Porque os Professores são pessoas de bem, que amam a sua profissão e que a colocam acima de tudo, muitas vezes, acima da própria família, acima dos amigos.
Porque Ser Professor é Ser Humano.
Porque Ser Professor é Ser Essencial.
Porque Ser Professor é Ser Especial.
E citando Einstein finalizo: “Revela insanidade aquele que persiste na mesma ideia ou acção, sabendo que dela só poderá expectar o fracasso.”As viagens na minha terra.

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