OPINIÃO Duarte Gil Barbosa

« De facto é extremamente curiosa esta requisição civil. 
Sou médico, tenho 15 anos de licenciado, passei 8 anos em serviços de urgência e mais 2 na direção clínica de um. Hoje trabalho em intensivos e pré hospitalar. Este meu percurso deu-me até hoje a capacidade para perceber que o SNS é um dos maiores bens que temos e um dos pilares da nossa democracia. E que é assassinado por políticas acéfalas de dirigentes políticos ainda mais acéfalos. Vejo todos os dias urgências cheias, sem espaço para trabalho, sem dignidade para os doentes, sem segurança para os profissionais de saúde que todos os dias destroem a sua própria saúde para tratar dos outros e por escolha própria. Em todos os anos se ouvem governos a queixar do governo anterior numa retórica de queixinhas e não de resolução de problemas. Mas nos últimos anos de geringonça a destruição do SNS tem sido exponencial. Gostava de saber onde andava escondida a requisição civil em todos os verões e invernos em que os serviços de urgência não garantem os serviços mínimos, mesmo com todos os profissionais lá a trabalhar. Gostava de saber onde estava a política de contratação quando se reduziu e bem o horário para as 35h. O planeamento em saúde deste governo é agredir os seus profissionais e pior.. os seus doentes. 
Vejo quase todos os dias morrerem doentes em serviços de urgência com conivência do governo através do seu ministério que tutela a área da saúde. 
O desinvestimento público deste governo, saúde incluído, rapidamente nos tornará num Portugal estéril e deserto. 
Não sei se uma reforma aos 57 anos e um início de carreira a 1600€ é algo comportável ao orçamento de estado, mas sei que a greve dos enfermeiros é séria e tem todo o meu apoio desde que serviços mínimos sejam garantidos.
O que faz confusão é que todos os dias vivemos em serviços abaixo dos mínimos. E isso já não interessa. E estamos exaustos. 
Sou da opinião que esta greve deve ser algo maior. Mais que justa para a enfermagem deve ser congregadora de todos os profissionais de saúde e defender o SNS público. Deixemo-nos de merdas e falemos a uma só voz sem dirigentes que de forma bacoca criam lutas entre classes que são complementares. Defendamos o SNS.
E defendamo-nos sobretudo do primeiro governo socialista com políticas fascizóides!!!
Requisitemos civilmente novos políticos.»

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As greves fofinhas

João Filipe Oliveira Parece que não querem ver o óbvio. A greve de um dia como força de pressão acabou. O governo, como as bactérias, desenvolveu imunidade em resultado do abuso da sua utilização. E o governo (aparentemente algum sindicalismo também) conta com a incapacidade de sustentar uma greve longa para dar esta forma de luta por extinta. Os enfermeiros encontraram uma brecha nessa muralha, mas o sistema (sindicatos incluídos) tratou de a esconder. Um pouco à semelhança do que se passou com a greve às avaliações, que foi estrategicamente colocada na prateleira para não incomodar.

Quem tudo quer tudo perde

Os sindicatos de professores garantem que nem uma eventual proposta do Governo de devolver sete anos do tempo de serviço congelado seria aceite e vão exigir os 9 anos 4 meses e 2 dias na ronda negocial marcada pelo Governo para a próxima segunda-feira. “A solução dos sete anos é impossível, depois de as regiões autônomas da Madeira e dos Açores terem contabilizado a totalidade do tempo. É uma questão de lei a recuperação dos 9 anos, 4 meses e 2 dias, até porque iria criar situações de inconstitucionalidade entre docentes das ilhas e do continente”, afirmou ao CM Mário Nogueira, secretário-geral da Fenprof e porta-voz das 10 estruturas sindicais de docentes. 

Ler mais em: https://www.cmjornal.pt/sociedade/detalhe/professores-recusam-recuperar-so-sete-anos

Santana Castilho no Público


Nenhuma das muitas greves acontecidas nos últimos tempos suscitou tanta polémica como a dos enfermeiros. Só porque afecta um dos mais importantes direitos dos cidadãos, o direito à saúde? Não creio. Com efeito, a greve dos médicos de 10 e 11 de Maio de 2017 terá adiado mais de oito mil cirurgias e cancelado mais de 180 mil consultas de especialidade e não suscitou discussão sequer parecida. Concedendo que não são únicas, tenho para mim que as causas principais estão aqui: a greve dos enfermeiros irritou como nenhuma outra António Costa; a greve dos enfermeiros foi decretada

por dois sindicatos recentes que, por rejeitarem o controlo das organizações monopolistas do sindicalismo e terem estratégias diversas das correntes, acabaram apontados como inorgânicos, apesar de serem tão legítimos, identificados e estruturados como os outros; a greve dos enfermeiros foi rotulada de direita, embora ninguém possa saber como votam os enfermeiros (bastou que a bastonária seja militante do PSD, que a CGTP esteja de fora, que muita gente de esquerda se indigne e outros tantos de direita se regozijem).

Ao anterior acresce a decantada questão do crowdfunding. Sem prejuízo de esperarmos pela cabal clarificação da origem dos donativos (embora a informação que vai sendo conhecida sugira que nada há de reprovável), importa sublinhar que os fundos de greve são legais e bem antigos. E importa referir que não deixa de ser hipócrita ver dirigentes de partidos políticos, que promovem angariações de fundos sem identificação dos doadores e são responsáveis pela inoperacionalidade da Entidade das Contas e Financiamentos Políticos (criada para fiscalizar os financiamentos das campanhas eleitorais), questionarem tão lestamente o crowdfunding dos enfermeiros. Como não deixa de causar perplexidade ver a ASAE, denunciada por negligências grosseiras e graves pela TVI, ser tão diligente a verificar o cumprimento de uma lei… que ainda não está em vigor (sim, o normativo que regulará o crowdfunding, embora pronto há mais de um ano, aguarda regulamentação para entrar em vigor). Este uso de uma polícia criminal para investigar um contencioso político/sindical reconduz-me a tempos antigos, de má memória, ou, no mínimo e para ser generoso, aos tempos mais recentes de “quem se mete com o PS, leva!”

O PS apresentou há dois anos o programa “Ferrovia 2020”, um investimento total de 2,7 mil milhões de euros, que se propunha modernizar umas vias e construir outras, num total de 1193 quilómetros de intervenções. Pelo correspondente calendário, deveriam estar já em execução 528 quilómetros. Mas, de facto, só 79 (15% do anunciado) estão em obra (PÚBLICO de 13.2.19). É apenas um exemplo de um padrão que se tornou norma: anunciar em torrente novas obras, apesar do imobilismo dos planos já apresentados. O mecanismo explicativo é simples: os défices históricos obrigam a cativações colossais e as cativações liquidam os investimentos e geram a degradação dos serviços públicos, de que a Saúde e a Educação são os casos mais visíveis. Com efeito, o investimento público de 2,8% do PIB, previsto em OE 2018, ficou-se por 2% (menos 1600 milhões) e significou o segundo valor mais baixo dos últimos dez anos, em termos de taxa de execução.

por dois sindicatos recentes que, por rejeitarem o controlo das organizações monopolistas do sindicalismo e terem estratégias diversas das correntes, acabaram apontados como inorgânicos, apesar de serem tão legítimos, identificados e estruturados como os outros; a greve dos enfermeiros foi rotulada de direita, embora ninguém possa saber como votam os enfermeiros (bastou que a bastonária seja militante do PSD, que a CGTP esteja de fora, que muita gente de esquerda se indigne e outros tantos de direita se regozijem).PUB

Ao anterior acresce a decantada questão do crowdfunding. Sem prejuízo de esperarmos pela cabal clarificação da origem dos donativos (embora a informação que vai sendo conhecida sugira que nada há de reprovável), importa sublinhar que os fundos de greve são legais e bem antigos. E importa referir que não deixa de ser hipócrita ver dirigentes de partidos políticos, que promovem angariações de fundos sem identificação dos doadores e são responsáveis pela inoperacionalidade da Entidade das Contas e Financiamentos Políticos (criada para fiscalizar os financiamentos das campanhas eleitorais), questionarem tão lestamente o crowdfunding dos enfermeiros. Como não deixa de causar perplexidade ver a ASAE, denunciada por negligências grosseiras e graves pela TVI, ser tão diligente a verificar o cumprimento de uma lei… que ainda não está em vigor (sim, o normativo que regulará o crowdfunding, embora pronto há mais de um ano, aguarda regulamentação para entrar em vigor). Este uso de uma polícia criminal para investigar um contencioso político/sindical reconduz-me a tempos antigos, de má memória, ou, no mínimo e para ser generoso, aos tempos mais recentes de “quem se mete com o PS, leva!”

O PS apresentou há dois anos o programa “Ferrovia 2020”, um investimento total de 2,7 mil milhões de euros, que se propunha modernizar umas vias e construir outras, num total de 1193 quilómetros de intervenções. Pelo correspondente calendário, deveriam estar já em execução 528 quilómetros. Mas, de facto, só 79 (15% do anunciado) estão em obra (PÚBLICO de 13.2.19). É apenas um exemplo de um padrão que se tornou norma: anunciar em torrente novas obras, apesar do imobilismo dos planos já apresentados. O mecanismo explicativo é simples: os défices históricos obrigam a cativações colossais e as cativações liquidam os investimentos e geram a degradação dos serviços públicos, de que a Saúde e a Educação são os casos mais visíveis. Com efeito, o investimento público de 2,8% do PIB, previsto em OE 2018, ficou-se por 2% (menos 1600 milhões) e significou o segundo valor mais baixo dos últimos dez anos, em termos de taxa de execução.

Palavras do passado, mas atuais

Uma dirigente Sindical, no Jornal do Algarve, sobre os professores do 1º ciclo
«Estes docentes possuem uma cultura de escola tão enraizada que, muitas vezes, não usufruem dos seus direitos. Se as reuniões sindicais ultrapassarem o tempo estipulado para o intervalo, os docentes sentem que devem retomar as suas aulas, quando a escola pode e deve providenciar soluções para os discentes.

Evitam faltar, mesmo quando estão doentes, pois os seus alunos terão de ser distribuídos por outras salas. Receber 4 ou 5 alunos de outra turma, torna-se incomportável, quer a nível físico, quer a nível pedagógico. O sentido de responsabilidade impele-os a reunir as suas forças e ir dar aulas, pois no dia seguinte já estarão melhores e, assim, não sobrecarregam os outros professores.»

Comentário: Este discurso parece a descrição de uma tribo indígena, descoberta pela elite sindical, cujo líder, talvez já nem se lembre, era parte dela.

Senhores sindicalistas, poucos conseguirão chegar quase aos 67 anos a trabalhar com alunos. Ter um cargo que permita fugir ao peso de uma turma será um privilégio de poucos.  A luta por uma turma melhor vai ser renhida. E talvez por isso, tanta subserviência.

Os docente do 1º ciclo devem unir-se,  reinventando uma forma de estar diferente da que está no texto, na qual não me revejo.