Convencido de que o eleitorado se desiludiu com “os partidos do regime”, André Pestana dizia, em maio de 2014, que “as pessoas querem um partido novo e o MAS é esse partido”. Desiludido com os sindicatos tradicionais, a quem acusa de fazerem uma “luta mansinha”, André Pestana avançou com o Sindicato de Todos os Professores, o Stop, que, por estes dias, promove uma greve às reuniões de avaliação. Hoje posiciona-se “objetivamente do outro lado da barricada” do atual ministro Tiago Brandão Rodrigues de quem foi colega de curso, caloiros em Bioquímica em Coimbra.
O candidato ao Parlamento Europeu pelo Movimento Alternativa e Socialismo (MAS) em 2014 – foi segundo na lista, atrás do líder, Gil Garcia -, ex-militante do BE, de onde saiu em rutura, é hoje o rosto conhecido do S.to.p. Este sindicato, o 23.º para professores, diz-se “sem filiação política” e sem servir “nenhuma agenda partidária”.
André Pestana explica ao DN que “a esmagadora maioria [dos filiados] do Stop não pertence a nenhum partido”. Entre os dirigentes, reconhece, “temos pessoas do BE, do PAN e até pessoas que assinaram o manifesto do PS”, referindo-se ao texto inicial assinado por 230 docentes que está na origem do novo sindicato. E também do MAS, como o próprio Pestana, seu fundador.
Os seus filiados recusam “estar condenados aos sindicatos tradicionais, [a] agendas políticas e desunião”. André Pestana traça as linhas divisórias entre todos os outros sindicatos e o seu. “Nós continuamos ao lado dos colegas na sala de aula” e, “estatutariamente”, têm limite de mandatos. É um reparo à Fenprof? “Pode entender como quiser”, faz ponto de honra.
Como faz noutro ponto: “O Stop garante que nunca assinará nenhum acordo com o Ministério ou o Governo sem antes ser sufragado democraticamente pela classe”, regista ao DN.
Esta democracia direta, o trabalho nas redes sociais (a comunicação do Stop faz-se pelo Facebook e num canal no YouTube) e uma coordenação inorgânica bebem influência nos movimentos sociais, admite André Pestana, como a Geração à Rasca.
Há uma corrente sanguínea que se ouve entre o sindicalista do Stop e militante do MAS. É este partido que afirma, nas suas teses políticas, que “as grandes lutas de professores” nos anos de Sócrates, “traziam já consigo os principais elementos das novas mobilizações”e “a manifestação da “Geração à Rasca” trouxe a massificação das lutas por fora das organizações tradicionais”.
Ou como quando recorda que foi colega do ministro da Educação. “Fomos colegas. Entrámos em 1995, fomos caloiros de Bioquímica, depois mudei para Biologia no final do 2.º ano. O “Paredes” continuou, seguiu a via científica”, diz, referindo-se à alcunha que davam a Tiago Brandão Rodrigues, que é de Paredes de Coura.
Hoje, André Pestana guarda as distâncias: “Isto é uma batalha muito séria”, justifica-se. No Parlamento, quando se encontraram, “cumprimentou-me muito efusivamente, eu mais moderado”. “Sei que [o ministro] está objetivamente do outro lado da barricada. Está do lado dos que dizem que há dinheiro para a banca, para as parcerias público-privadas e não há para a escola pública e para a saúde pública”, diz.
Amigos, amigos, negócios à parte, sintetiza o sindicalista ao DN. E o seu discurso volta a confundir-se com o do candidato do MAS ao Parlamento Europeu em 2014: “Há sempre milhões para os mesmos de sempre, tem de haver uma auditoria à dívida.”
Com vários militantes na estrutura do Stop, o sindicato é também uma lança do MAS, que publicita na página da internet as suas ações sindicais. Este movimento nasceu da Ruptura/FER, tendência de Gil Garcia que integrou o BE até romper com o partido, em 2011, quando André Pestana também saiu. “E mais 200.”
Cautelas dos partidos
Contactado pelo DN, o secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira, escusou-se a comentar, dizendo que não é assunto que preocupe a Federação Nacional dos Professores. À esquerda, os partidos preferem a cautela de não se imiscuir no debate entre Governo e sindicatos. Questionados pelo DN sobre se a atual radicalização faz tremer o trabalho conjunto dos parceiros parlamentares que apoiam o executivo socialista, só o PCP se disponibilizou a explicar que “o Governo tem de cumprir” o que ficou acordado no Orçamento “e a negociação é com os sindicatos”.
