Fernando Alves JULHO 17, 2019 ÀS 12:30 PM
Não será uma questão de o programa de Matemática ser desajustado ou nem por isso. A percepção de muitos professores da disciplina é de que se impinge demasiado “lixo” aos alunos, e a demasia obriga a que o tanto seja dado um pouco a correr. O “lixo” a mais faz com que, no final do 3º ciclo, a maioria dos alunos perca a noção de coisas essenciais e não domine competências basilares. Fico desolado quando, após tantos anos, uma grande parte dos meus alunos não sabe a diferença entre o que é uma área, um perímetro e um volume, não sabe resolver problemas simples com percentagens, embrulha-se o cérebro cada vez que aparece uma fração, letras misturadas com números são suficientes para lançar o pânico, e, pior que tudo, não conseguem entender mais do que linha e meia de texto seguido (apesar da positiva a Português). Tem havido uma vontade crónica de cada vez mais ir buscar conteúdos à frente e atirá-los aos alunos mais novos, de sofisticar os conteúdos, de tratar todos os alunos do ensino básico como se todos fossem prosseguir estudos até ao ensino superior num curso que envolva muita Matemática. Parece que tudo se quer resolver recorrendo unicamente ao aumento da quantidade. Não é preciso muitos conteúdos para se conseguir manter um grau de exigência decente e sem resvalar para as facilidades. Não é preciso muitos conteúdos para se conseguir meter os alunos a puxar pelos miolos, a aplicar a Matemática em problemas sérios (adaptados às suas idades), a raciocinar, a relacionar e a criticar resultados. Eliminando muito do “lixo”, mas mantendo um grau de exigência decente, o certo é que isso não dará lugar ao sucesso generalizado, porque, a partir do momento em que é preciso – da parte dos alunos – algum empenho, seriedade e esforço, uma fatia dos alunos optará imediatamente pelo caminho mais fácil que é a desistência, com a óbvia conivência dos respetivos progenitores. O programa de Matemática precisava ser mexido, sim, mas não pela mão de pessoas tidas por especialistas ou peritas, as quais, a bem dizer, não fazem grande ideia do que estão a fazer, pelo simples motivo de que os verdadeiros especialistas e peritos estão nas escolas, todos os dias, com os seus alunos, ajustando as suas práticas aos alunos que apanham pela proa, refletindo e refazendo, e acumulando experiência de ensino da Matemática a crianças e jovens.
