O músculo do governo e o esquecimento dos favores familiares

https://expresso.pt/dossies/diario/2019-08-08-Greve-dos-motoristas.-Policia-de-choque-vai-estar-na-ponte-25-de-Abril-para-impedir-bloqueio

O governo vai derrotar a greve e o PS conseguir a maioria absoluta?

foto montagem de Luis Costa

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Avaliação de desempenho docente

Sou professor no quarto escalão. Fui avaliado no presente ano letivo para progredir para o quinto escalão. Confesso que, durante os últimos anos tenho estado alheado de todas as polémicas relacionadas com a avaliação da carreira docente. Disseram-me que preciso de MUITO BOM para progredir para o quinto escalão. Por isso, no momento em que me comunicaram a minha avaliação final de BOM, fiquei chocado. E agora? Já não progrido para o quinto escalão? Explicam-me que posso requerer ao Diretor a recuperação da avaliação de “MUITO BOM” que tive no ciclo avaliativo anterior. Pedem-me sigilo sobre a minha avaliação, “para evitar ruídos desnecessários”.
Questiono-me sobre a necessidade de sigilo num processo que devia ser transparente e público. Não era mais fácil afixarem uma pauta com as avaliações finais dos docentes na sala dos professores? Confesso que começo a ficar confuso!
É óbvio que não é possível manter os resultados da avaliação docente no segredo dos deuses. Alguns colegas acabam por comentar a sua avaliação final. Eu, por exemplo, fiz questão de não respeitar o pedido de sigilo. E assim, às tantas, fico a saber que o colega X foi avaliado com EXCELENTE. De repente, apercebo-me que estou perante um sistema de avaliação docente que tem tanto de injusto como de imoral. Foi criado para que nos dividíssemos numa profissão em que cooperar é fundamental. Quando deviam premiar o mérito e a dedicação à escola, estão a distinguir os docentes seriando-os para entrarem num sistema de quotas limitativo e gerador de competição.
É inevitável. Eu comparo-me ao colega X que foi avaliado com EXCELENTE. Por sinal um colega com quem mantenho boas relações de amizade. Sim, reconheço-lhe competência. Conheço bem o seu trabalho, trabalhamos em equipa frequentemente. Mas, e eu? Sei que não sou inferior ao colega X em nenhum dos parâmetros avaliados. Nesta minha tendência para a modéstia, eu nunca me consideraria um professor excelente, mas estou plenamente convicto que sou tão competente e dou tanto ou mais à escola do que o colega X.
Será que o facto de o colega X ser extremamente reivindicativo, de personalidade frontal e frequentador de “ambientes diretivos” influenciou o resultado da avaliação? Será que o facto de ter amigos na SADD o terá favorecido? E, por outro lado, será que a minha postura mais pacífica e submissa, sempre disponível para aceitar todos os cargos e trabalhos que já ninguém quer, acabou por me prejudicar? Lamentavelmente, tudo passa agora pelo meu pensamento, correndo o risco de estar a ser injusto com alguém. Na verdade, a minha mágoa é mais dirigida contra este sistema de avaliação docente minuciosamente construído para limitar as progressões na carreira docente.
Agora percebo como o sistema é estranho, obscuro e injusto. Reconheço que estou magoado e que me sinto injustiçado como nunca me senti. E que estou sobretudo desmotivado. Tão desmotivado que questiono a minha capacidade de continuar.
Reflito. Desanimo. Desabafo com um amigo. E, finalmente, tomo decisões quanto ao futuro. Preciso urgentemente de mudar a minha postura em relação à escola. A partir de agora, vou colocar a minha vida pessoal e familiar em primeiro lugar. Vou abandonar os projetos e desafios que tenho abraçado com paixão em benefício dos alunos e da escola. Vou solicitar ao meu Diretor a escusa de todos os cargos de coordenação que tenho exercido a seu pedido e que me obrigam a tantas reuniões de trabalho, planos de ação, relatórios e afins. E vou deixar de organizar aquelas atividades extracurriculares tão interessantes para os alunos, mas tão trabalhosas para mim.
A partir de agora vou limitar-me a cumprir o serviço letivo e não letivo que me é atribuído. Vou continuar a dar o meu melhor nas atividades letivas, pautando-me sempre pela dedicação aos alunos. Mas vou aprender a dizer NÃO a tudo o resto.
É com esta sensação de libertação e de alívio que inicio as minhas férias. Neste mês de agosto já não vou ter de rever aqueles documentos de trabalho, melhorar grelhas Excel e preparar planos de ação. Nestas férias não vou trabalhar para a escola. Afinal, este sistema de avaliação da carreira docente até tem os seus méritos!!
Boas férias para todos!

(anónimo por motivos óbvios)”