Lembra-se como era andar na escola nos anos 80? – Joana Emídio Marques

Nos anos 80 as escolas só reabriam na primeira semana de outubro, depois de três meses infinitos de férias. O primeiro dia de aulas tinha já sabor de outono. Estreavam-se roupas novas, a mala tinha que durar pelo menos quatro anos, o estojo pelo menos um ano letivo inteiro e só havia margem para comprar cadernos, lápis e borrachas quando estes se gastavam.

Não havia birras nem invejas do colega do lado, até porque a escolha não era muita e quase todos tínhamos coisas iguais. Nas cidades ou na província a moda era a mesma: kispos, fatos-de treino, ténis, camisolas de gola alta, gorros de malha e, nos dias de chuva, botas de borracha para andar a saltar dentro das poças. Convenhamos que esta modernidade com pavimentos lisos e estradas alcatroadas estragou muitas delícias da vida infantil…

Nesse tempo em que não havia ASAE, paranoias securitárias e pedófilos em cada esquina, íamos e vínhamos a pé para a escola, comprávamos bolos com creme numa padaria que houvesse pelo caminho, passávamos o tempo livre na rua, corríamos para todo o lado, pendurávamo-nos com audácia em árvores, muros, redes, éramos quase todos magros, ágeis e expeditos. De casa levávamos um aviso: ai de ti que a professora me venha fazer uma queixa.

Depois da escola, ao fim da tarde, havia desenhos animados na televisão. Primeiro ainda os víamos a preto e branco, depois passou a ser a cores. Ser criança nos anos 80 teve essa coisa importantíssima que era uma programação televisiva pensada para educar. Havia os desenhos animados japoneses que nos faziam chorar claro, como o Marco ou a Candy Candy. Mas depois havia os desenhos animados da Europa de Leste do Vasco Granja, os clássicos da literatura contados em versão infantil como o D’Artacão (Os Três Mosqueteiros de Alexandre Dumas), Willy Fog (A Volta ao Mundo em 80 dias de Júlio Verne), Tom Sawyer (Tom Sawyer de Mark Twain), ou a série francesa Era uma vez o espaço, que tinha este maravilhoso…

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