Caravela Portuguesa -Texto XIII de Jacinto Palma Dias

A necessidade faz o engenho. Estando-lhe proibido o Norte o Algarve vira-se para Levante. É a caravela a tomar esse rumo.
“Ora, observando a terminologia naval portuguesa anterior a 1460, analisada por Maria Alexandra Tavares Carbonell Pico concluímos que entre 1434 e 1450, um arco cronológico envolvendo a crise de 36/46, todas as referências à caravela aparecem num contexto de actividade piscatória. Mas é precisamente com esse arco cronológico que coincide a maior intensidade do corso no século XV: ”entre 1430 e 1450, o corso (português) tomou tais proporções que (…) chegou até a não respeitar a navegação comercial portuguesa”. Será a caravela a interpretar esta ambiguidade: ela é simultâneamente o melhor barco de pesca e transporte e também o melhor barco de corso. Colocada dentro de uma tenaz, de um lado o sedutor proveito dos bons preços e do outro a dificuldade em transportar o pescado e o figo ou o cereal no retorno sem ser incomodado pelos piratas, a solução do impasse será de ordem técnica, concentrada no aperfeiçoamento das embarcações, mas já com desígnios específicos como será o caso do aparecimento da coberta, muito importante para o transporte seja do figo seja dos cereais ou do pescado e que na altura se chamava “tilhado”, equipamento já detectado em caravelas da campanha de Lançarote de Lagos em 44/45. Essa evolução morfológica deverá ter obtido os seus acabamentos quando a tenaz se apertou em 38/39/40, cúmulo da crise sobretudo nos primeiros dois anos, licença de porte de armas no terceiro. Funcionava então em pleno o teorema de Braudel, segundo o qual nos momentos de altas de preços, e o cereal é ouro em /38/39, a tendência é para se multiplicarem os navios pequenos, como era a caravela. Aperfeiçoamento e multiplicação das embarcações é o que deve ter acontecido em 38/39, já armadas em 40, de modo a que – subitamente – quando a carência se atenua nos anos 42/43 e os preços baixam, surge um superavit de embarcações desocupadas produzindo visualmente o efeito de cogumelo na cidade de Lagos (51 caravelas!) vendo-se obrigadas sob a liderança de Lançarote a fazer corso nas costas de África em nítida acção de reconversão de actividade. E claro, descobrindo novas terras.” (in “A Caravela Portuguesa” a publicar brevemente). Jacinto Palma Dias

https://duilios.wordpress.com/2019/12/16/texto-xv-de-jacinto-palma-dias/

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