Na segunda-feira, a ministra da Administação Pública disse, em entrevista à Antena 1, que não podia excluir o congelamento das carreiras. Já na quarta-feira, em declarações à TSF, Alexandra Leitão mudou o discurso. 51 mais palavras
Podia ter começado a trabalhar aos 16, aos 18, como tantas da sua criação. Num banco. Nas Finanças. Naquela empresa de automóveis. Ou na Câmara. Mas o pai tinha outros planos para ela.
Estudante aplicada, boa aluna, faz o liceu e entra na universidade. Acaba aos 22. E começa a trabalhar.
No tempo das vacas gordas, a Lurdes, perdão a Dra. Lurdes, podia reformar-se aos 55 de idade, com 30 de serviço. Mas quando chega aos 55 de idade, já com 33 de serviço, a Lei mudara seis meses antes. Tem de continuar a trabalhar.
A Dra. Lurdes tem muitos colegas que se reformaram pela Lei Velha. Mas a ela já não a deixaram reformar-se. As colegas passam os dias no café, os meses a viajar, os anos a descansar. Justamente. A cuidar dos netos. Ela continua a trabalhar. Todos os dias.
Um dia – há sempre uma luz ao fundo de um túnel… – a Esquerda promete-lhe acabar com a injustiça! Sempre preocupada com os trabalhadores, a Esquerda faz aprovar outra Lei: reforma aos 60, com 40 de serviço.
A Dra. Lurdes, no entanto, volta a ter azar: aos 60 de idade só tem 38 de serviço. E quando chega aos 40 de serviço já tem 62 de idade. Não dá!, dizem-lhe. Mais uma vez não dá para ela! Para outros (os de 60+40), sim. Para ela (62+40), não.
Parece estúpido? É mesmo estúpido, mas é assim. A Lei esquerdista apenas se aplica a quem tem simultaneamente 60 de idade e 40 de serviço.
Ou seja, os nascidos em 1959 e que começaram a trabalhar em 1979 puderam reformar-se em 2019 sem penalização. Os nascidos em 1960 e que começaram a trabalhar em 1980 podem reformar-se em 2020.
A injustiça, afinal, continua. E, agora, ainda é maior do que antes. Que azar! Azares sucessivos.
A Dra. Lurdes tem agora 64 anos, quase 65. E 42 anos de serviço, quase 43. O Estado diz-lhe para continuar mais dois anitos.
Em 2022, quando finalmente chegar à reforma, terá trabalhado 45 anos. Aqueles seis meses em que não apanhou a Lei Velha significam ter de trabalhar mais 15 anos do que as colegas. Meia vida!
Agora, quase aos 65, a Dra. Lurdes vê-se obrigada a usar o computador. Cumpridora, acata as ordens e dá o seu melhor. Todos os dias. Mesmo no dia em que se esquece de ligar o microfone e provoca a galhofa dos alunos.
Acertaram! A Dra. Lurdes é professora. Se tivesse sido deputada, não teria aturado os “filhos dos outros” (aturaria outros “filhos”…) e só tinha precisado de 12 anos para chegar à reforma.
A Lurdes teve sorte: o pai deixou-a estudar. Hoje pensa que talvez fosse melhor ter ido para os empregos com que sonhava na infância – a Caixa, as Finanças, a companhia dos telefones ou a empresa dos automóveis. Até mesmo a Câmara.
Este texto muito esclarecedor foi escrito (a rogo do Movimento de Humor) pelo nosso amigo Mário Martins (um dos excelentes jornalistas de Coimbra).