Isto é gozar com quem trabalha

Mérito
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Morgado da Herdade da Rola em comentário sobre “O Primeiro Livro (Presencial) Do Desconfinamento

Morgado da Herdade da Rola

As editoras já preparam tabletes com capas para todos os tipos de leitores: paper touch (para os tradicionalistas), impermeável (para ler no colchão da piscina ou no banho de espuma), papel cola-moscas (para alunos renitentes), veludo aromatizado (para literatura erótica), metal carregado electro-estaticamente (para autores electrizantes). A câmara permitirá reconhecer o movimento de molhar o dedo na língua e virará automaticamente a página, detectará a expressão de desagrado e saltará as páginas que estiverem indexadas com o mesmo tipo de conteúdo e apresentará avisos para parar a leitura de forma a evitar miopia juvenil. O tablet apresentará relatórios periódicos aos pais com alarmes configuráveis. O tablet para leitores comandará a porta do frigorífico e a tampa da caixa das bolachas. As passagens que o leitor apreciar especialmente serão guardadas automaticamente e podem ser enviadas a uma lista de contactos.

Os Equívocos da Educação à Distância – António Dias Figueiredo

 https://www.sinalaberto.pt/os-equivocos-da-educacao-a-distancia/

A pandemia trouxe a educação à distância para as nossas casas. De um dia para outro, toda a gente passou a falar de educação à distância.  A expressão, que já era controversa no contexto profissional onde era usada, explodiu subitamente, num fogo de artifício de interpretações coloridas e ilusórias que lhe destruíram de vez o significado. Quando hoje se discute a educação à distância a expressão já não quer dizer nada.

A ironia desta efervescência é que a dicotomia entre mundo presencial e mundo online é hoje um falso problema. Os dois mundos já não têm fronteiras. Raras são hoje as atividades individuais e sociais que prescindem das tecnologias digitais, do uso dos telemóveis, da comunicação na Net ou do acesso a repositórios na “nuvem”, onde, de resto, já se encontra armazenada a maior parte dos nossos dados.

Curiosamente, vários comentadores dos media, justamente frustrados com as restrições que a pandemia lhes impôs, passaram a reclamar, não contra a pandemia ou as restrições, mas contra a linha-de-vida que os manteve ligados ao mundo nesse período: o online. Paradoxalmente, foi online que as reclamações contra o online foram mais lidas e foi aí que foram partilhadas e aclamadas. Sem online, teriam sido gotas de água no oceano.

Sentindo que este tipo de contradição, entre o ser-e-não-ser, estar-e-não-estar, dificulta a construção serena do futuro, que nos explodirá nas mãos sob formas indesejáveis se não cuidarmos de o criar com inteligência, a Comissão Europeia lançou, há meia dúzia de anos, o projeto Onlife Manifesto, onde defendeu que assumamos o fim da distinção entre mundos online e offline e reconheçamos que vivemos uma nova ordem social, económica, política e ética no seio da qual esse tipo de distinção não tem sentido. O projeto, liderado por Luciano Floridi, professor de filosofia e ética da informação da Universidade de Oxford, deu origem a um interessante volume de reflexões publicado pela editora Springer em 2015.

O ensino remoto de emergência não poderia correr bem, nem em Portugal nem em parte nenhuma do mundo, por razões biológicas básicas: a atenção, a memória e a disciplina intelectual de uma criança têm limites que ninguém pode contornar.

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