Algarve é um dos destinos preferidos pelos britânicos. E também um dos mais caros, comparado com Espanha, Grécia ou Tunísia, por exemplo. O Coronavírus iniciou-se como crise sanitária, mas rapidamente se transformou em crise financeira, com empresas a falir e pessoas em layoff ou a perder os empregos. O turismo funciona como importação para quem fornece os turistas, pois pressupõe a saída de divisas. E qualquer país, neste momento, tenta evitar essa saída de divisas, querendo, pelo contrário que haja entrada das mesmas. E aqui temos o diferendo entre o Reino Unido e Portugal – o primeiro a evitar a saída de divisas, querendo, pelo contrário que haja entrada das mesmas. Porque, se não fosse a necessidade do dinheiro, seríamos nós a recusar a vinda dos britânicos, uma vez que a Grã-Bretanha tem mais mortes pela COVID-19 do que Portugal tem infeções (e o Algarve com um número reduzidíssimo), o que significa que somos nós quem mais arrisca com a sua vinda e os seus hábitos de vida.
O que a maioria dos algar-
vios desconhece é que o iní-
cio do grande boom turístico
algarvio, na década de 1960,
teve origem numa decisão se-
melhante por parte de Ingla-
terra, prejudicando sobretu-
do a França, mas também a
Alemanha e a Itália, os prin-
cipais destinos dos ingleses,
que são os maiores exporta-
dores de turistas, desde sem-
pre. Após a Segunda Guer-
ra Mundial, os ingleses – tal
como os norte-americanos –
começaram a canalizar turis-
tas para os países perdedo-
res, ao abrigo do Plano Mar-
shall, para ajudar a sua recu-
peração económica. Mas es-
ses países começaram a de-
senvolver a sua economia e,
no início da década de 1960,
estavam tão fortes como In-
glaterra, e os preços a ficar
demasiado elevados. A fim de
pôr cobro à saída exagerada
de divisas, a governo britâni-
co colocou um limite máximo
de 30 libras por pessoa, para
sair do país. Tal montante não
permitia férias nesses locais
habituais.
Para evitar problemas
políticos internos, descobriu
e promoveu os novos desti-
nos, como o Algarve. Recor-
do-me da libra a 70 escudos,
com uma corrida de táxi Por-
timão-Rocha a 10 escudos e
um whisky, no bar de um ho-
tel de cinco estrelas, a 30 es-
cudos. O problema era como
levar os turistas para esses
destinos mais longínquos. A
solução foi vulgarizar, com os
aviões, o que Thomas Cook
iniciara muitos anos antes
com um comboio, o aluguer
do mesmo pela totalidade,
baixando o preço. E assim
apareceram os operadores
turísticos com voos charter e
se desenvolveu o turismo no
sul de Portugal e de Espanha.
Ao longo dos anos, o turismo
foi-se democratizando, mais
pessoas começaram a fazer
férias, com menos poder de
compra por cabeça, não só
porque alguns tinham menos
dinheiro, mas porque o cus-
to de vida subiu nos destinos
turísticos. No Algarve, a in-
flação subiu exageradamen-
te durante anos, pagavam-se
os investimentos de bares e
restaurantes em tempo re-
corde, tudo eram facilidades.
Mas começámos a ficar fora
das posses de muitos e hou-
ve mercados, como o alemão,
que não singraram, durante
muitos anos.
Felizmente para o Algar-
ve, deu-se a guerra do Gol-
fo e outras no leste europeu,
que obrigaram os turistas a
escolher outros destinos. O
Algarve, uma vez mais, foi
beneficiado e, durante anos,
o mercado alemão foi impor-
tante para nós e o britânico manteve-se.
Entretanto, nunca se desenvolveu qualquer atividade
paralela ao turismo, sempre
com a desculpa de que iria
afetar esta atividade tão im-
portante e lucrativa. Ninguém
se preocupou com a hipóte-
se de, em qualquer momento,
haver uma situação que nos
pudesse afetar, como já tinha
acontecido a outros destinos
turísticos. Nem a crise das es-
tâncias termais portuguesas
foi exemplo, embora muitos
dos profissionais que vieram
para o Algarve abrir os pri-
meiros hotéis fossem vítimas
desse fenómeno.
Caros leitores, infelizmente, chegou a nossa vez. É tempo de olharmos para a realidade, de revermos a oferta os preços de venda, porque a crise também está a afetar os potenciais clientes, estudando a melhor maneira de encontrar o ponto de equilíbrio, porque lucros serão quase impossíveis de obter em dois ou três meses. E também é tempo de se pensar em alternativas ao turismo, para nos tornar menos dependentes. Sejamos
