Eis uma questão que tem sido debatido há vários anos e que nada tem de pacífico dado a diversidade de opiniões. Há quem considere a monodocência esgotada e quem a defenda acerrimamente, além de haver quem fique no meio termo.
Há alguns anos, ponderou-se estender o modelo da monodocência ao 6.º ano para que não houvesse solavancos na passagem do 1.º para o 2.º ciclo. A ideia foi lançada, mas o modelo manteve-se até hoje sem alterações.
Entretanto um sindicato numa conferência afirmou que “o modelo do professor único está esgotado”. Há experiências que mostram que o 1.º ciclo pode ser enriquecido com outros professores, seja para alunos com necessidades educativas especiais, seja noutras situações. Nesta linha de pensamento, outros afirmam que não é nada fácil o trabalho de um docente do 1.º ciclo que tem de dominar, em simultâneo, áreas tão distintas e, por isso, o professor de 1.º ciclo deve especializar-se numa área, à semelhança do que acontece nos outros ciclos e em nome de uma mudança mais tranquila entre 1.º e 2.º ciclos.
No meio termo aparece quem defenda os alunos do 1.º ciclo devido a estarem habituados à presença de mais do que um docente durante um dia de aulas, há sempre uma figura de referência predominante, neste caso, o professor titular. As crianças estão a crescer, a desenvolverem-se afetivamente, e precisam de um acompanhamento próximo. Para evitar o corte drástico entre o jardim de infância e a entrada no 1.º ciclo, sugerem que poderia haver um professor a ensinar Português, Matemática e Estudo do Meio e outro docente a lecionar as áreas das Expressões Artísticas, havendo assim a presença de dois professores na mesma turma. O que permitiria, por outro lado, uma entrada mais suave no 2.º ciclo.
Os argumentos da defesa da preservação da monodocência são múltiplos e variados. Entendem que as crianças nesta faixa etária necessitam de um professor referência, de um modelo e de afetos próprios desta idade. Não é por acaso que a monodocência grassa nos países mais evoluídos no campo educacional. A monodocência permite uma melhor gestão do tempo letivo e uma melhor articulação das diferentes áreas disciplinares. Até a nível disciplinar a monodocência é uma grande vantagem. No 1.º ciclo raramente há casos de indisciplina, como é que um aluno concluiu o 1º ciclo sem incidências disciplinares e transitando para o 2.º ciclo, passado 3 ou 4 meses já é apontado como um caso de indisciplina. Há quem acrescente que a escola deve assentar nas virtudes da previsibilidade e da rotina – a manutenção deste paradigma de Professor do 1.º Ciclo em defesa da qualidade das aprendizagens. Também não é despropositado considerar que as crianças do 1° CEB estão num momento chave do seu desenvolvimento social e afectivo e, nesse sentido, necessitam de um acompanhamento constante, proximal e um modelo de “disciplinarização” contraria a visão que se baseia numa perspectiva integrada do desenvolvimento e do sucesso das crianças. Há quem não duvide, que a monodocência, no tempo e sociedade atuais, é cada vez mais importante pois garante-se às crianças um adulto qualificado e altamente preparado para ser uma referência. As crianças estão a crescer, a desenvolverem-se afetiva e socialmente, e precisam de um acompanhamento próximo e transversal. Gestão mais eficaz e consequente do tempo letivo. Maior e melhor articulação dos saberes entre as diferentes áreas.
E muitas mais citações poderiam aqui ser colocadas em prol e contra a monodocência. Como conclusão e por aquilo que tenho falado com colegas, a maioria dos que defendem a pluridocência fazem a pensar na diferenciação que há na carga horária lectiva de 25h e 22h, para uns uma hora ser 60 min e para outros ser 50, ter redução da componente lectiva por ser director de turma, em suma usufruir dos benefícios que a monodocência não tem. Aproveito para terminar, afirmando que a Escola deve ser encarada como um espaço nobre, onde as crianças devem ter tempo e espaço para brincar em detrimento daquela visão em que a Escola é somente um espaço de trabalho contínuo e mecanizado. E, já agora, deve tratar os professores do 1.º Ciclo, bem como os Educadores de Infância, com a justiça, a equidade e com o carinho que justificadamente são credores e que em tempos idos eram compensados com um regime especial de aposentação.
José C. Campos
Para mim a parte mais difícil de aceitar é a ausência de democracia efetiva nas escolas. Quotidiano a que me habituei ao longo da carreira. Existe uma democracia formal (CG), por vezes é até motivo de constituir uma “corte” à volta do poder unipessoal d@ diretor@. Na minha opinião em vez de contribuir para o bom funcionamento das escolas, só causa injustiça, prepotência e bajuladores de ocasião.

Os poderes instituídos contribuiram para transformar em inúmeros casos a terceira opção pela primeira, como consequência, estes últimos anos tão penosos para a escola portuguesa…