A quarta ação de protesto da Fenprof no local em que se realiza mais uma reunião do Conselho de Ministros, no caso, no Palácio Nacional da Ajuda acontecerá dia 27 de maio. Esgotadas todas e quaisquer possibilidades de negociação com os responsáveis do Ministério da Educação (ME), a concentração é dirigido ao governo, em particular ao Primeiro-Ministro e à Ministra da Presidência. O protesto pretende a adoção, por parte que é responsável pela governação do país, de uma atitude aberta ao diálogo e à negociação, que, efetivamente valorize o diálogo social, e respeite as organizações sindicais de educadores e professores. […]
José Negrão Buísel é uma das referências do anarquismo no Algarve. Professor, seguidor das ideias pedagógicas libertárias da escola Moderna de Francisco Ferrer, esteve ligado à Federação Anarquista do Sul e posteriormente à CGT. Preso por diversas vezes, o seu nome foi atribuído, após o 25 de Abril de 1974, a um estabelecimento de ensino e a uma rua de Portimão. José Negrão Buísel nasceu em Portimão a 27 de outubro de 1875. Era filho do catalão, Jerónimo Baudílio Buísel, que se fixou em Portimão para instalar uma fábrica de cortiça. De ativista republicano, a par de outras figuras ilustres de Portimão, como Manuel Teixeira Gomes e Ernesto Cabrita, passou a radicalizar a sua ação política, como libertário e anarquista, vindo a liderar o movimento grevista em Portimão e Silves, a discursar entusiasticamente em comícios a favor de greves gerais (1918), em defesa dos operários corticeiros e marítimos (1922, 1925, 1926) e contra a guerra em Marrocos (1925).Esta ação política revolucionária levou-(o) à prisão várias vezes e granjeou-lhe enorme popularidade no meio operário. Em 1902, com 27 anos de idade, fundou e dirigiu o semanário ‘A Verdade’, publicação fortemente politizada que versava temas como o analfabetismo, a educação cívica, a pedagogia, a língua portuguesa, a história, as ciências naturais e a higiene. O jornal teve uma vida efémera, mas José Buísel continuou a escrever na imprensa local. Em 1912 fundou em Portimão o ‘Grupo Libertário A Verdade’ que viria a filiar-se na Federação Anarquista do Sul. Em 1905, criou um colégio particular, o Lusitano, do qual foi diretor, onde se ministrava o ensino elementar, o curso completar dos liceus, o curso teórico-prático de comércio e ainda ginástica, música e piano. Aberto a todos, os alunos mais pobres não pagavam propinas, o que lhe valeu a atribuição de subsídios por parte da Câmara Municipal até à instauração da ditadura militar (1926).A partir de então, além de não dispor de recursos financeiros para sustentar o colégio, passou a contar com a concorrência do colégio apoiado pelo regime ditatorial e frequentado pelos meninos das famílias ricas – o Colégio Infante D. Henrique que passaria a Liceu Municipal Infante D. Henrique, em 1932.Após o golpe de 28 de maio de 1926, o seu ativismo político continuou, tendo sido preso várias vezes pela polícia política. Foi preso em 1928 e posteriormente em Março de 1934, por causa da greve insurreccional do 18 de Janeiro. Esteve preso na Cadeia do Limoeiro, em Lisboa, tendo sido solto em Agosto de 1937(*) e passando depois a residir no Monte Estoril. Já com 62 anos de idade, continuou a sua atividade pedagógica no colégio Bairro Escolar de Estoril, cujo diretor era o seu filho, Dr. Américo Limpo de Negrão Buísel, também opositor ao Estado Novo. José Negrão Buísel esteve internado no hospital do Desterro, em Lisboa, vindo a falecer, vitimado por uma hemorragia cerebral, aos 79 anos de idade, num asilo em Lisboa. O funeral foi pago pelos seus alunos. Durante as suas inúmeras prisões, as aulas eram asseguradas, primeiro por um ou dois dos irmãos, depois pelos filhos, e o sustento da família vinha, em parte, da solidariedade da gente simples: pescadores que forneciam peixe, mulheres da praça que levavam ovos e hortaliça, etc. Quando ele regressou da prisão, o povo juncou o chão de rosmaninho desde Ferragudo até Portimão e acompanhou o professor em ar de procissão, ouvindo o grito da boca de homens simples: viva o professor Buísel, viva o pai dos nossos filhos. Expressão que definia bem o carinho e a consideração dos pais dos alunos por ele, homem bom que lhes educava os filhos como se seu pai fosse.