José Negrão Buísel é uma das referências do anarquismo no Algarve. Professor, seguidor das ideias pedagógicas libertárias da escola Moderna de Francisco Ferrer, esteve ligado à Federação Anarquista do Sul e posteriormente à CGT. Preso por diversas vezes, o seu nome foi atribuído, após o 25 de Abril de 1974, a um estabelecimento de ensino e a uma rua de Portimão. José Negrão Buísel nasceu em Portimão a 27 de outubro de 1875. Era filho do catalão, Jerónimo Baudílio Buísel, que se fixou em Portimão para instalar uma fábrica de cortiça. De ativista republicano, a par de outras figuras ilustres de Portimão, como Manuel Teixeira Gomes e Ernesto Cabrita, passou a radicalizar a sua ação política, como libertário e anarquista, vindo a liderar o movimento grevista em Portimão e Silves, a discursar entusiasticamente em comícios a favor de greves gerais (1918), em defesa dos operários corticeiros e marítimos (1922, 1925, 1926) e contra a guerra em Marrocos (1925).Esta ação política revolucionária levou-(o) à prisão várias vezes e granjeou-lhe enorme popularidade no meio operário. Em 1902, com 27 anos de idade, fundou e dirigiu o semanário ‘A Verdade’, publicação fortemente politizada que versava temas como o analfabetismo, a educação cívica, a pedagogia, a língua portuguesa, a história, as ciências naturais e a higiene. O jornal teve uma vida efémera, mas José Buísel continuou a escrever na imprensa local. Em 1912 fundou em Portimão o ‘Grupo Libertário A Verdade’ que viria a filiar-se na Federação Anarquista do Sul. Em 1905, criou um colégio particular, o Lusitano, do qual foi diretor, onde se ministrava o ensino elementar, o curso completar dos liceus, o curso teórico-prático de comércio e ainda ginástica, música e piano. Aberto a todos, os alunos mais pobres não pagavam propinas, o que lhe valeu a atribuição de subsídios por parte da Câmara Municipal até à instauração da ditadura militar (1926).A partir de então, além de não dispor de recursos financeiros para sustentar o colégio, passou a contar com a concorrência do colégio apoiado pelo regime ditatorial e frequentado pelos meninos das famílias ricas – o Colégio Infante D. Henrique que passaria a Liceu Municipal Infante D. Henrique, em 1932.Após o golpe de 28 de maio de 1926, o seu ativismo político continuou, tendo sido preso várias vezes pela polícia política. Foi preso em 1928 e posteriormente em Março de 1934, por causa da greve insurreccional do 18 de Janeiro. Esteve preso na Cadeia do Limoeiro, em Lisboa, tendo sido solto em Agosto de 1937(*) e passando depois a residir no Monte Estoril. Já com 62 anos de idade, continuou a sua atividade pedagógica no colégio Bairro Escolar de Estoril, cujo diretor era o seu filho, Dr. Américo Limpo de Negrão Buísel, também opositor ao Estado Novo. José Negrão Buísel esteve internado no hospital do Desterro, em Lisboa, vindo a falecer, vitimado por uma hemorragia cerebral, aos 79 anos de idade, num asilo em Lisboa. O funeral foi pago pelos seus alunos. Durante as suas inúmeras prisões, as aulas eram asseguradas, primeiro por um ou dois dos irmãos, depois pelos filhos, e o sustento da família vinha, em parte, da solidariedade da gente simples: pescadores que forneciam peixe, mulheres da praça que levavam ovos e hortaliça, etc. Quando ele regressou da prisão, o povo juncou o chão de rosmaninho desde Ferragudo até Portimão e acompanhou o professor em ar de procissão, ouvindo o grito da boca de homens simples: viva o professor Buísel, viva o pai dos nossos filhos. Expressão que definia bem o carinho e a consideração dos pais dos alunos por ele, homem bom que lhes educava os filhos como se seu pai fosse.

José Negrão Buísel
Um interessante artigo que recupera a memória de um dos mais importantes militantes anarquistas algarvios que tem sido esquecido pela historiografia oficial, incluindo por aqueles que pesquisam nas áreas da história social e da história da oposição à ditadura no Algarve. Eduardo Sousa
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