Uma questão de confiança – Paulo Guinote

Então mas não sabiam o que estavam a criar? Qual foi o objetivo da criação dos cursinhos de gestão? E a seguir a legislação para diretores? E o sistema da avaliação? As escolas têm exatamente um sistema feudal… eu pessoalmente penso que é uma monarquia da idade média, o rei manda de forma absoluta. As escolas deixaram de ser instituições democráticas. O rei nomeia para eleições e depois controla todos os órgãos. Os “instalados ” senhores do feudo com acumulação de cargos remunerados…os cargos não remunerados ficam para o Povo, que gosta de ir ao teatro, mas não ganha para o pão e sopa. O clientelismo da avaliação promove a nomeação e o controlo da eleição nada democrática. Os instalados prestam vassalagem aos nomeados do rei, porque dali lhes advém um bom horário e um amigo para os avaliar. Um ensino controlado por instalados em que os princípios gerais do direito não conseguem ter voz e prejudicam as liberdades, os direitos e garantias dos cidadãos. A transformação de um direito administrativo falsamente regulador e com espirito de princípios estruturantes da monarquia e não constitucionais. É que nem uma monarquia Parlamentar ou Constitucional existe na forma deste modelo de gestão e avaliação das escolas. Não sei se o país vai aguentar a verdade que as escolas estão a viver! Ou mandam embora com urgência esta velhada toda ou arriscam a perder os poucos professores que gostavam de trabalhar na educação! É uma vergonha ! Qualquer criança do 1° ciclo percebe o sentido de justiça e democracia…não entendo como os professores colaboram com estas situações!? O ensino ao pertencer à gestão da Administração Pública era no sentido da procura da justiça social e não num mero castelo político de um grupo social ou económico. Na escola deve estar presente o interesse público e não o interesse de algumas famílias, amigos ou de um partido político. As injustiças são elevadas e isto trará consequências muito em breve.

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Relato de uma professora sobre as angústias da avaliação

https://visao.sapo.pt/opiniao/bolsa-de-especialistas/2021-10-04-a-mesa-com-uma-inspecao-do-ministerio-do-educacao-o-relato-de-uma-professora-sobre-as-angustias-da-avaliacao/

…É possível sempre melhorar! Especialmente se nos for dado tempo de qualidade para uma reflexão madura e responsável sobre como melhorar as nossas práticas pedagógicas no domínio da avaliação das aprendizagens, se nos derem um número razoável de alunos e de níveis e de turmas e de anos, se perceberem de uma vez por todas que um profissional docente deve ser uma profissional reflexivo e não um fazedor de grelhas que, ajudarão certamente a essa reflexão, mas não são a sua essência. Como tem mostrado – e bem – a investigação científica nesta área, a avaliação pedagógica pode ser um importante fator de combate ao sucesso escolar, ao abandono e às desigualdades, crucial em qualquer instituição de ensino e ainda mais, posso afirmar, nas escolas localizadas em territórios educativos de intervenção…

O sucesso total a todo o custo?

 talvez a que mais me angustiou foi a seguinte: Então se faz corretamente a avaliação formativa dos seus alunos, como explica ainda a existência de classificações negativas nas pautas? Pediram-me exemplos concretos de tudo o que afirmei, de todos os argumentos que defendi. Tinha vários, felizmente. O que mais parece ter chocado as minhas interlocutoras foi a minha tese de que a dificuldade dos alunos em reter informação, por mais simples que aparentemente seja e das mais variadas formas por que seja apresentada, é gritante. Exemplo? – pediram-me. Não será a senhora professora que não está a utilizar o método certo para que essa aprendizagem ocorra? Talvez, talvez, admiti… Mas então, ajudem-me, pedi. Ainda ontem introduzi Pessoa e o Modernismo numa turma de um curso profissional contextualizando-o numa época, num século, em décadas, em anos… Falei, escrevi no quadro, eles escreverem no caderno, viram e ouviram um vídeo e leram no powerpoint a época: séc. XX. Perguntei se sabiam a razão para o dia 5 de Outubro ser feriado nacional. Falei-lhes do rei de Espanha e do Presidente da República de Portugal. Remeti para a data de 1910… Sai da aula convicta de que nenhum daqueles alunos jamais trocaria o século de Pessoa como fazem habitualmente com o século de Camões. Pura ilusão. Na aula seguinte, ninguém se lembrava e, pior do que isso, houve quem avançasse com o século XVII, XVII ou XIX. Contei-lhes esta história e perguntei às senhoras inspetoras o que fariam, como fariam e pedi-lhes que me ensinassem. Não estamos aqui para ensinar, responderam. E tinham toda a razão…