Receio que este período de campanha eleitoral vá esgotar o debate em torno da educação com o tema do presencial versus incompetência ministerial na conceção do ensino à distância.
Há aspetos essenciais que serão retirados do foco. O pior que aconteceu nestes últimos anos, porque vai marcar negativamente as gerações futuras, foi a obliteração da ciência e do saber nas aprendizagens dos alunos. Isso abre caminho a autocultivos de superficialidade, banalidade e imediatismo fáceis que gerarão sociedades manipuláveis, desestruturadas, crentes em teorias conspirativas e sem laços de valores comuns.
Os DL 54 e 55 publicados nas costas dos professores durante o verão, bem como a flexibilidade curricular, projetos maia, ubuntu e moleza avaliativa revelam bem a falta de qualidade que já domina a classe dos decisores políticos. A ciência e o saber estão a ser destruídos e retirados do currículo a favor de um folclore pseudopedagógico. É como se de um esqueleto retirassem a coluna e quisessem que ele se mantivesse vertical só com falanges e metatarsos.
Sempre quero ver se nos debates algum jornalista mais afoito (que já não os há, pois estão todos avençados) vai perguntar sobre isto e levar ao fundo a exploração deste tema. Se acontecer, o Rio limitar-se-á a proferir clichés meio aos gritos, meio ao engraçadinho. O Costa limitar-se-á a engolir a dicção refugiando-se na defesa dos seus arrebanhados decisores da área sem perceber muito bem as implicações daquilo que eles decidiram, ou tentando esconder as verdadeiras implicações daquilo que foi feito, pois ele sabe que sabemos que ele sabe que quanto maior a família socialista a alimentar mais hipóteses tem o polvo. A Catarina e o Jerónimo atirarão culpas para o PS sem assumirem as respetivas culpas. O Cotrim e o Ventura, sem nada perceberem do assunto, limitar-se-ão a dizer que é mau o que existe e que é preciso voltar à ditadura de direita.
Ao mesmo tempo nenhum jornalista abordará o tema da gestão escolar autocrática que existe hoje. Nenhum questionará sobre os tiques ditatoriais e sobre os diretores que estão no poder prontos para alcançar o prazo de validade de Salazar, os 50 anos no cargo! Nenhum líder político puxará este ponto atrofiador para os debates porque não lhes interessa, não sabem, nem querem saber. Nenhum jornalista e nenhum político puxará para o debate a imensa tristeza e desgaste que pairam sobre os professores pelos maus tratos a que têm sido sujeitos e pelas injustiças do roubo salarial e de tempo de serviço para encher buracos abertos por ladrões de cartola.
A coisa ficará ao nível da superficialidade, não se chamará ao debate quem percebe mesmo do assunto, haverá até o cuidado de os silenciar pois a questão para se perceber na sua inteireza exige trabalho de aprofundamento quer a políticos, quer a jornalistas e eles não estão para isso. Para quê estudar e ser sério se o que interessa é o momento, se o que interessa é audiência rápida, se o que interessa é voto por impulso.
Portanto, mais uma vez, se perderá a oportunidade de debater com verdade a questão mais basilar da construção social que é a educação.
E porquê? Porque é melhor fazer como avestruz: perante o perigo esconder a cabeça na areia!
