Retomando a narrativa sobre as transformações na paisagem algarvia nesta época (finais do sec. XIX), Jacinto Palma Dias prossegue:
“Mas essa segunda revolução, agora agrícola, já tinha começado antes, no Sotavento, aproveitando a escala dos vapores ingleses em Vila Real. Pela primeira vez, havia não apenas mercado com o – e sobretudo – transporte para se lá chegar. E foi assim que aqueles areais que rodeavam Vila Real de Santo António e que Link qualificará no fim do séc. XVIII como” desertos”(1) foram rapidamente aplanados, povoados e preenchidos com noras e sistemas de regadio em alvenaria, de modo a produzir melancias e laranjas para enviar para Inglaterra. Quando o comboio chega em 1906 já o trabalho de casa estava feito. É agora a vez do Sotavento se mostrar. Dotado de uma faixa de Barrocal muito estreita, pouca cortiça, aridez extrema sobre terrenos de xisto pouco aráveis e uma iniciativa estatal falhada (Pombal/ Vila Real), o Sotavento era uma constante de seculares esvaziamentos demográficos (2). De repente, com a escala dos barcos ingleses, bem como a linha férrea V. Real/ Faro (Lisboa), o Sotavento adquire uma espinha dorsal que o revelará, subitamente, como a primeira zona de primores do país no que diz respeito ao abastecimento a Lisboa.”
Jacinto Palma Dias
Algarve Manifesto. Págs. 48/49
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