Um retrato da Assembleia da República no dia da não discussão do ILC

Sandra Gonçalves Igreja

Ontem às 07:19

Tenho mesmo de falar.
Na terça-feira, dia 16, estive sentada nas galerias da Assembleia da República, para assistir à apreciação do Decreto-Lei n.º 36/2019 de 15 de Março, relacionado com os efeitos do congelamento ocorrido entre 2011 e 2017 na carreira docente. Levantei-me e saí como a maioria dos professores que lá se encontravam, quando aquele que se diz Ministro da Educação começou a papaguear falsidades. Ainda assim, no restante tempo, pude ver o que estava à mostra de todos. Estive, pela primeira vez, numa sessão de plenário e fiquei completamente estúpida com a atitude da maioria dos deputados no exercício das suas funções, pagos a peso de ouro (tendo em conta tudo o que recebem) por todos nós! A quantidade de cadeiras vazias numa tarde em que se falou, por exemplo, da violência doméstica é vergonhosa. É completamente inacreditável, e não, não é igual a ver a transmissão no canal AR. Há de tudo, para todos os gostos: uma senhora deputada do PS, que chegou, sentou-se, foi ao seu telemóvel e aí passou vinte a trinta minutos. Entretanto, conversou algo com quem passou ou se sentou ao seu lado, depois fechou a sua sessão, pegou no seu casaco, nos papéis, na mala e sai, vai embora. Já tinha trabalhado…já tinha cumprido com as suas obrigações. Uma outra senhora deputada, também do PS, que chegou pouco antes de ir falar, depois foi para o seu lugar e esteve no facebook, no computador da AR. Houve um outro senhor deputado, igualmente do PS, que chegou já a sessão tinha começado, ou seja, chegou já perto da sua intervenção, falou e passado pouquíssimo tempo foi embora! Um outro senhor deputado, desta feita do CDS, que esteve bastante tempo no seu telemóvel, por diversas vezes. Outros senhores deputados, agora do PSD, que também utilizaram os seus telemóveis, inclusivamente para falar!, e/ou tablets pessoais. Até determinada altura só na bancada parlamentar do PCP, BE e verdes, ninguém tinha ido, no entanto, foi uma questão de tempo apenas! Entram quando querem e saem quando bem lhes apetece, enquanto a sessão plenária prossegue e outros deputados realizam as suas intervenções. Mas, assim como assim, praticamente ninguém está atento às intervenções…nem sequer das da sua cor política. No entanto, no fim é certo que batem palmas às da sua bancada parlamentar! Devem saber de memória o que os seus pares vão ler…seres extraordinários! Recordo que todas estas situações se passaram em horário de trabalho. Até me podem dizer que podem gerir os seus horários desta forma, mas estas atitudes e posturas ficam muito mal. Se a saberem que nas galerias estavam dezenas de professores e até esteve uma chefe de estado, a Presidente da Estónia, e não se coibiram de agir assim, o que será quando sabem que estão poucos ou ninguém? Dia 16 tomei consciência que a nossa representatividade está podre. Nos partidos já não acreditava, mas ia mantendo a esperança em algumas pessoas…fiquei desesperançada. Poderão existir alguns que não estejam contaminados mas, por certo, depressa ficarão. A podridão alastra tal qual uma epidemia. Na Casa da Lei portuguesa poucos são os que pensam e defendem a causa pública…proliferam os sevandijas, os defensores acríticos das cartilhas partidárias e dos interesses actuais e/ou futuros, dos próprios e/ou de terceiros.
Não deixarei de votar, por respeito a tantos que lutaram para que este fosse um direito para todos, mas enquanto não (re)nascer a esperança, irei escrever no boletim de voto o que me aprouver no momento. Nas que se avizinham será “SOU PROFESSORA”.